sábado, 3 de maio de 2008

ímp ar,

foi só olhar de novo dentro dos teus olhos naquele início de tarde quente, te ver sorrir e tentar não transparecer sentimento. É assim, assim que a gente entende que certas formas de amar não são pra serem guardadas ou escondidas, é assim que vemos que saudade serve não só pra sentir noites vazias e silenciosas, mas para trazer pra perto o motivo dela própria, pra que ela possa ir, não por inteiro, mas que possa expulsar sua parte cortante, pra que aquele amor latente em nós possa também expulsar-se em alguém e ali permanecer pra sempre mesmo que passe o tempo, o vento, os sons, os dias, as tardes, a chuva, a noite, mesmo que passem as pessoas, que passem rios, mesmo que tudo passe. Pro amor não tem remédio nem hora marcada, não tem dois corpos, dois copos, duas vidas, duas vias, não tem lugar, ar, não tem quase amar, nem quase querer, nem tem não saber. Foi só te ver de longe pra me deixar sem graça e a tarde toda sem pensar em outra coisa que não fosse aquele beijo de dois anos atrás, ou naquela saudade que de jeito algum me largava. Pensei nas músicas, pensei no teu cabelo, na tua voz, no teu cheiro, pensei no esquecimento, no quase esquecimento, e lembrei: 'amor não tem quase'. Quis mudar as coisas de lugar, quis trocar a rotina, quis parar, só num instante que fosse nosso. Quis e vou, vou parar o próximo instante que te tocar, pra que o mundo não exista também do lado de fora de mim, pra que me perca nesse ciclone e sinta tudo continuar girando e pra que dentro de mim tudo continue sorrindo. Pra que seja então sacramentado ímpar e teu o meu amor.

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