sábado, 19 de fevereiro de 2011

"Por tudo que fomos. Por tudo o que não conseguimos ser. Por tudo que se perdeu. 
Por termos nos perdido. Pelo que queríamos que fosse e não foi.
Pela renúncia. Por valores não dados. Por erros cometidos. 
Acertos não comemorados. Palavras dissipadas.
Versos brancos. Chorei pela guerra cotidiana. 
Pelas tentativas de sobrevivência. Pelos apelos de paz não atendidos. 
Pelo amor derramado. 
Pelo amor ofendido e aprisionado. Pelo amor perdido. 
Pelo respeito empoeirado em cima da estante. 
Pelo carinho esquecido junto das cartas envelhecidas no guarda- roupa. 
Pelos sonhos desafinados, estremecidos e adiados.
Pela culpa. 
Toda a culpa. Minha. Sua. Nossa culpa. Por tudo que foi e voou."
(Caio Fernando Abreu)
Com a diferença que dessa vez não chorei mais. Chorei tudo naquele dia e fiquei a espera.  Não, não de sentir raiva, estazinha passou longe. A espera de não chorar mais, de sentar na cama, abrir um livro e acender um incenso. A espera da hora de franzir o cenho mais uma vez e de durar cada vez menos. Você ganhou, me matou no cansaço. Ganhou em tempo recorde. E mesmo assim, depois de jogar a toalha, arumei sua escova ao lado da minha porque quando eu era criança e dormia com meus pais eu tinha uma espécie de supertição. Sempre colocava as escovas deles uma ao lado da outra e a minha bem atrás. A única vez em que eles chegaram perto de se separar eu cheguei a pensar: Culpa minha! Esqueci as escovas. No dia seguinte voltei ao banheiro, a minha já não estava, mas arrumei as escovas deles bem perto uma da outra. E todas as vezes que eu arrumava assim, os dias eram bons. Todas as vezes.
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