domingo, 4 de maio de 2008

estra bismo, n ão afo rismo



"Paranóia ou mistificação? Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que vêem as coisas normalmente e em consequência disso fazem uma arte pura, guardando os eternos ritmos da vida , e adotando para a concretização das emoções estéticas os processos clássicos dos grandes mestres. (...) A outra espécie é formada pelos que vêem anormalmente a natureza e interpretam-na na luz das teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica de escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos da cultura excessiva. (...) Embora eles se dêem como novos precursores duma arte a vir, nada é mais velho do que a arte anormal ou teratológica: nasceu com a paranóia e com a mistificação. De há muito já que estudam os psiquiatras em seus tratados, documentando-se nos inúmeros desenhos que ornam as paredes internas dos manicômios. A única diferença reside em que nos manicômios esta arte é sincera, produto ilógico de cérebros transtornados pelas mais estranhas psicoses; e fora deles, nas exposições públicas, zabumbadas pela imprensa e absorvidas por americanos malucos, não há sinceridade nenhuma, nem nenhuma lógica sendo mistificação pura."
(Monteiro Lobato).
Eu nunca quis discordar tanto de Monteiro Lobato quanto agora. A arte passou a ter mais sentido aos 'americanos malucos' porque expôs aquilo que viam, o 'estrabismo' citado permitiu uma expansão contínua dos estilos que trouxe justamente o modernismo no seu real sentido. Fosse na literatura, música ou nas artes plásticas, uma hora ou outra a arte se adequaria ao mundo (como fez) e colocaria na mesa as críticas sociais e as distorções criadas pelo homem. Anita Malfatti, nasceu em São Paulo, filha de pai italiano e engenheiro, mãe norte-americana e pintora, mais ou menos em 1910 (não tenho muita certeza do ano) foi pra Berlim estudar na Academia Real e voltou ao Brasil, quando realizou sua primeira exposição, após este tempo foi para Nova York, mediante o contato com outras culturas, Anita herda influências expressionistas e cubistas (são essas as principais características da sua obra), o que a diferencia dos demais artistas brasileiros da época, induzindo a crítica de Lobato. O Brasil não estava acostumado com um ataque exposto da elite para a elite, mostrando que agora tinham coisas mais importantes a serem discutidas do que a fiel descrição de um vaso ou ainda a constante busca pela evazão no tempo, ainda tinham muitas ofensas e cabeças à rolar como na Semana de 1922, 'semana de três noites' que marcou a literatura brasileira moderna.

Um comentário:

Unknown disse...

Lobato fez justamente o que a maioria das pessoas fazem com o novo, o inusitado...
É fato que todos estranham algo que contraria a normalidade, já que estão acostumados com um tipo de realidade, nem sempre o impactante é visto com bom olhos. Ainda hoje alguns artistas contemporâneo são vistos como aberrações (as exposições do "Natural History" de Damien Hirst , dá uma olhada O.o)
Mas a verdadeira questão é que, em geral, ninguém gosta de esforçar a mente para entender. Muito mais fácil acompanhar a novela das oito, bem mais compreensiva e previsível.
O que é mais interessante é que todas essas manifestações com o passar do tempo viram normais ou todos se acostumam com tais. E o que é o normal?
...
Deve ser desestressante escrever.. meus textos ficam na pasta do meu computador ;)
Nao errei ao falar que gosto como escreves.
Amo! :*