Quando tu encheste a minha taça.. já ia embora meia garrafa por mim, meia por ti. Matei a fome antes, com a pizza que fizemos - isso se 'fazer' inclui eu ir comprar os ingredientes contigo e voltar gargalhando no carro por algum acontecimento fatídico, depois desviar de um ciclista na contra-mão e xingar um ônibus em alta velocidade. Tu nunca te importaste de eu estar só de blusa de botão e amar arrastar os chinelos andando corcunda pela casa. Eu nunca me importei com as tuas piadas-sem-graça e continuo não-me-importando. Se eu pudesse assistir a tudo deitada, debaixo da cama, teria visto o vinho respingar no chão. Teria visto a tua mão conduzindo a garrafa pra um lugar em que eu não fosse chutá-la. Eu teria visto a minha mão agarrando a tua coxa. A tua mão levantando a minha blusa. A minha mão abaixando a tua calça. A tua mão soltando o meu cabelo. A minha mão apertando a beira da cama. A tua mão arredando a almofada. A minha mão. A tua mão. A minha mão. Na tua mão, a minha mão. Na minha mão, a tua.
Se eu olhasse pra trás, o mundo inteiro girava embaixo do lençol gelado, o vinho pingava, eu ouvia. . Até que duraram mil segundos. Marcada. Ferro. Fogo. Frio. Me rabisca o corpo todo. Carne-viva. E tu falaste que gostava do jeito como eu te segurava a taça. Eu disse que não tinha narizinho mais bonito que o teu. E ainda não tem. E a lua. Aí ficou aqui, a tua sombra na parede ao lado da cama, o teu cheiro do teu lado da cama. Ficou a minha mão na tua, a tua, na minha.
Aquela dedicatória na primeira foto que tu produziste estava de frente pra porta, na prateleira hoje. E aí eu entrei, olhei e tomei um café pra te lembrar o gosto. Num sorriso que tu viste. Som que só tu escutaste. Toque que só tu sentiste.
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