Levantamos deveras cedo e fomos aos vinhedos que, perto do campo de amoras, rodeia tua blusa azul celeste. Celestial, era tudo o que eu queria acreditar. Mas fui surpreendida, abordada pelas três amas morenas de Copacabana que não mediram a força pra puxar o copo que eu segurava. Dentro tinham as uvas que eu queria que tu cheirasses, as uvas tórridas de lágrimas que chorei mais cedo. Parece que me quero num verbo pronominal, mas a verdade é que te quero desamarrando as blusas azuis-atlântico do varal, colocando num cesto e levando embora. Em boa hora.
Eu então, no fim da manhã, vi o sol entre a chama que acendia meu cigarro. Fiz questão de aspirar bem fundo o cheiro daquela lama molhada que pintava até o meio, minhas botas. Segurei bem firme a rédea pra que Tião, teu cavalo, não fugisse. Dei a ele um pedaço de capim e então um tapa nas ancas e ele galopou. Quando vi Tião longe uns dez metros vi a cobra que o fez cair mais tarde. Ele era bom, mas pra que mais um cavalo na areia?
Meu Liev rompeu pra perto da cobra e num ato de coragem ergueu as patas da frente e com todo seu peso craqueou sua cabeça. Bravo Liev. Como aquela única estrela que mais brilha toda noite, pra lá você levou as blusas. Pra onde foi a cobra e pra onde correu Tião. E aí que Liev volta com o peito robusto, a crina dourada e as patas embebidas de sangue e veneno. Fomos para o lago, lavei-lhe as patas, dei-lhe água, a cela velha e a montaria. De cima de Liev o vento corta meus cabelos. E assim seguimos sob o calor das duas da tarde, daquele agosto pavoroso, direto para o estábulo, onde os ofídios não adentrariam e onde eu ouviria o som do mato dando recados. Villa-Lobos é o que eu ouço. Bachianas.
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