Ontem fugi de ipanema correndo pra botafogo e assistir a Separação. Teci um muito breve comentário no facebook, como faço costumeiramente e passei outra breve parte da noite pensando nele e querendo abrir o aplicativo pra escrever aqui. Mas confesso... Quando os dias começam às seis, as palavras se embaralham à meia noite e lá pelas tantas eu já estou com uma xícara de chá ao leite ao lado da cama, um gato entre as pernas e o cobertor até o pescoço.
Continuando... Não achei um filme digno de oscar, até então. Não sei se assisti a algum dos outros indicados porque não parei pra olhar a lista ainda, mas com certeza, esse ano, assisti a melhores títulos estrangeiros do que este, apesar de ser um filme com inúmeras qualidades. Quero lembrar aqui, que eu não vou comentar o filme tecnicamente porque não tenho know-how pra isso e sim vou comentar sempre, sempre, sempre como mera expectadora que, no final das contas, é o que eu sou.
Do meio pro final fiquei tentando elencar na minha cabeça tudo o que o diretor pensou, as cenas que deixou passar/perdeu pra terminar honestamente (não que a cena do final seja descartável, claro. Não é). Depois de desistir da adivinhação, comecei a realizar o que significa realmente SEPARAÇÃO, pra mim. Após a quebra dos vínculos, as situações não devem seguir munidas de um juízo de valor massacrante. Não passam a ser erradas, louváveis, etc. Elas simplesmente passam a ser menos importantes e destituídas de qualquer daqueles juízos se o 'nós', 'eles', etc, não mais existe. Se trata só de levantar uma confiança recíproca, um companheirismo recíproco com quem ficou ou apareceu desta quebra quando você não pode levantar esses dois sentimentos pela pessoa que se foi (e no caso do filme, ninguém "se foi" diretamente).
No divórcio, eu diria, ficam os filhos, principalmente. Nas meras separações (talvez eu esteja sendo audaciosa ao chamar assim), os amigos, os amores ou pessoas posteriores que te dizem uma, duas ou três palavras de respeito puro as quais você simplesmente dá um valor inestimável, tanto valor aos segredos quando tem certeza que continuarão a ser segredos, as conversas que ganharam toques de íntimas. Considerei depois desse momento taxativo que separação me parece algo como um ponto de partida para seguir em frente e talvez por isso eu esteja, ainda, um pouco distante de ter uma opinião sólida a respeito dessa obra. SPOILER (não leia): A cena do final sugere uma espera eterna enquanto você vê os créditos iranianos subindo e nada entende (rs, até brinquei: "olha aí o diretor de fotografia passando!"). Esperar a decisão de um filho, acredito, seja uma tortura pra quem já passou por isso e desconhece as maravilhas da guarda compartilhada. Mas separação em si, não se trata em uma espera eterna pra mim e por isso, talvez, tenha subestimado o final. Pelo contrário, quando a separação de fato chega (e entenda 'DE FATO' como o momento em que você realmente se dá conta de que não quer mais fazer parte daquilo), a última coisa que você quer e faz é esperar do outro, porque você não se sente mais apto a isso. Nesse caso, um final que deixou 'esperando algo a mais', não era, sendo bastante redundante, o que eu esperava da obra. Se é que vocês me entendem.
E pra finalizar - necessariamente, porque cá estou eu sempre me prolongando e me atrasando como se a vida lá fora não existisse - entendo que o filme realmente se perdeu em algum ponto (e ainda não sei qual), como dizem as 'más-e-sábias-línguas', do meio pro final. E essa crítica sim, metalinguisticamente falando, fez muito sentido se comparada ao título. Ora, separação não é exatamente isso? Não vão esperando por um final resoluto, é o conselho que eu dou. Tem coisas que não te contemplam com um final apoteótico ou um final "soco-no-estômago", mas que vão te deixar pensando até o dia seguinte. Fora isso, o filme retrata quase que maravilhosamente a realidade cultural de toda a situação e das tramas paralelas, desenvolve muito bem a parte moral, religiosa e legal do local. O valor está aí e também nos personagens, que achei muito peculiares.
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