sábado, 15 de dezembro de 2007

strip tease

Chegou no apartamento dele por volta das seis da tarde e sentia um nervosismo fora do comum. Antes de entrar, pensou mais uma vez no que estava por fazer. Seria sua primeira vez. Já havia roído as unhas de ambas as mãos. Não podia mais voltar atrás. Tocou a campainha e ele, ansioso do outro lado da porta, não levou mais do que dois segundos para atender. Ele perguntou se ela queria beber alguma coisa, ela não quis. Ele perguntou se ela queria sentar, ela recusou. Ele perguntou o que poderia fazer por ela. A resposta: sem preliminares. Quero que você me escute, simplesmente. Então ela começou a se despir como nunca havia feito antes. Primeiro tirou a máscara: "Eu tenho feito de conta que você não me interessa muito, mas não é verdade. Você é a pessoa mais especial que já conheci. Não por ser bonito ou por pensar como eu sobre tantas coisas, mas por algo maior e mais profundo do que aparência e afinidade. Ser correspondida é o que menos me importa no momento: preciso dizer o que sinto". Então ela desfez-se da arrogância: "Nem sei com que pernas cheguei até sua casa, achei que não teria coragem. Mas agora que estou aqui, preciso que você saiba que cada música que toca é com você que ouço, cada palavra que leio é com você que reparto, cada deslumbramento que tenho é com você que sinto. Você está entranhado no que sou, virou parte da minha história." Era o pudor sendo desabotoado: "Eu beijo espelhos, abraço almofadas, faço carinho em mim mesma tendo você no pensamento, e mesmo quando as coisas que faço são menos importantes, como ler uma revista ou lavar uma meia, é em sua companhia que estou". Retirava o medo: "Eu não sou melhor ou pior do que ninguém, sou apenas alguém que está aprendendo a lidar com o amor, sinto que ele existe, sinto que é forte e sinto que é aquilo que todos procuram. Encontrei". Por fim, a última peça caía, deixando-a nua "Eu gostaria de viver com você, mas não foi por isso que vim. A intenção é unicamente deixá-lo saber que é amado e deixá-lo pensar a respeito, que amor não é coisa que se retribua de imediato, apenas para ser gentil. Se um dia eu for amada do mesmo modo por você, me avise que eu volto, e a gente recomeça de onde parou, paramos aqui". E saiu do apartamento sentindo-se mais mulher do que nunca.
[Martha Medeiros]

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

lo ve

, quero sair, o dia está tão lindo e eu quero ver o sol! E cantar com os meus amigos até a noite chegar, sinto o vento soprar em meu rosto, algo quer me falar que a vida é tão linda, não vale a pena chorar. Já está na hora, já é o dia, tenho que ir pro mar, que me traz a paz, a alegria, me equilibra e me faz pensar. No caminho, não vou mais estar sozinho. Meu amor, na vida há sempre algo de bom, quando escuto aquele som que me falou que na vida só eu sei prá onde eu vou. Ainda lembro lá em Floripa olhávamos a lua e o mar namorando a noite inteira, até o dia chegar, sem ver o tempo a cada momento, eu queria te falar que de mãos dadas e sempre juntos o mundo nós iremos mudar. E no caminho por sobre as pedras, e a gente a imaginar que a África estava logo a nossa frente, quem sabe ainda vou tocar lá. (Chimarruts)

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

grand jetté



, de vez em quando a gente sofre por renunciar o que gosta e mais ainda, sofre por renunciar por uma coisa que nem tem certeza que nem sabe se vai te fazer feliz. Nesses segundos passam pela cabeça quantas quedas e quantas recuperações aconteceram, quantos momentos de felicidade extrema, quantas coisas mudaram e vão mudar e mais ainda, em quantas aulas em que eu me senti eternamente bailarina, eternamente no real sentido da palavra. De uma forma diferente os últimos dois anos da minha vida marcaram pra sempre, não só por ter conhecido e reconhecido o valor de algumas pessoas exatamente como deveria, mas por ter revelado força o suficiente pra correr atrás de um objetivo, como corri nos dois últimos anos, corri e, em parte, alcancei. Não que eu esteja deixando isso pra trás, totalmente, mas um pouco disso sim, vai ficar pra trás, vai ficar junto com o pedacinho de mim, um pedacinho que amou e lutou muito, que sentiu o que nunca tinha sentido e que entendeu como fazer o essencial ser visível aos olhos, nunca vão existir palavras que expliquem, isso eu digo com certeza, o que significa pisar num palco e viver (sim, viver é a palavra certa) um personagem, no dia três, ontem no caso, eu me benzi tocando no palco e olhei pra frente não como se fosse a última vez, mas como se fosse um tempo de um ciclo, não consigo ver isso fora da minha vida, até porque de certa forma, nunca vai estar fora e sim vai ser sempre uma das maiores partes dela. Nunca pensei que fosse ter que dizer isso, mas é melhor deixar um ano pra depois do que ter que renunciar por muito tempo, nunca sei como terminar de escrever ou o que é melhor pra dizer até porque não tem coisa que eu mais odeie do que perder o controle e o domínio sobre algo, odeio não saber o que e como vai acontecer a partir de agora, mas eu sei que isso sim foi uma das coisas que eu fiz, que amei da forma mais apaixonada que eu pude amar,

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

dois mil e sete

na maioria das vezes a gente se encontra naquilo que gosta de fazer, e vê a realização de um sonho quando não só duas pernas caminham por ele, tenho que agradecer por ter encontrado pessoas que se disponibilizam a lutar por mim e por serem uma peça das minhas realizações e uma parte da minha força de ir até o fim.