terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Eu sinceramente esqueci o quanto é entorpecente estar aqui. Temo muito as redes sociais em geral. Quase engavetei o projeto. Melhor que um terapeuta, às vezes, é um texto bem armado. Me sinto tão destreinada a escrever que de cinco em cinco segundos fico voltando a frase anterior pra ver quantos erros foram cometidos. Coisa de criança que não sabe lidar consigo mesma. Eu, aliás, estou destreinada a fazer e viver muitas coisas ainda. 

A gente pode começar dizendo que elas eram três baianas, certo? Eu vou começar a falar da que é mais fácil (pra mim),  além de já estar me dando a prerrogativa de cuspir primeiras pessoas desde o primeiro parágrafo. Como sempre. Eu escrevo o que vejo - e vejo uma ficção tremenda. Pra que falar de facilidade numa altura dessa, não? A primeira baiana era sutil. Tinha problemas com vírgulas. Comia acarajé até tufar. Lia Vozes Guardadas, menina. Menina. Uma vez que envolta nas suas roupas brancas, com aquele turbante na cabeça, com aquela segurança de si, protegendo ori, com seus planos pra daqui quatro anos, desenvoltura ao girar a saia. Se fazia parecer fortaleza com aquela seriedade nada peculiar e com o riso de saudade de uma sociedade mãe, que ficou do outro lado do oceano. Nada peculiar de sua idade. E tudo era real, porém tudo pareceu bobagem depois dos anos passando. Depois dos mesmos anos, sua receita e sua venda? escreviam o cheiro daquela calçada, no verão.

A segunda baiana é aquela deslocada na sua região, que apareceu com um pé meio fora do quintal, uma fita meio frouxa, a sandália meio gasta de tanto andar procurando os ingredientes. Nada exuberante.  Essa moça era a que tinha um maior coração, cheio dos anos a mais, cheio dos sonhos. Pobre na organização. Só que cheia de experiência. Cheia de receitas de família e também pudera, que família. Ela que ri e ama sua cor, ela que ri e ama o seu corpo. Ela tinha um jeito de olhar por debaixo dos panos, de querer e não saber que horas. Imprecisa. A segunda baiana, essa tinha um quê quase surpreendente, que fazia o coração dos infelizes sair pela boca. Era tanta vontade de lhe provar a colher. Tinha umas mãos que iam, mesmo quando não sabiam onde e ficavam escondidas por baixo das saias lá pela meia noite/uma hora. Hora que não podia vender.

A terceira baiana eu não conheci muito bem, eu emprestei uma saia amarela, um coração gasto, uma cabeça incoerente que nunca sabia quando por o louro no feijão, exagero de pimenta do reino branca. Ai, ardia que só o diabo... Eu conheci só os dedos bem armados na colher de pau que mexia a panela, sabe? Era sempre em sentido anti-horário. Dedos prontos pra queimar um pouco. Sempre prontos pra doer a ferida de qualquer que fosse o infeliz que ousasse lhe deixar ou modificar o seu caminho... Ela que era livre dele. Dessa moça eu pude conhecer o pior todos os dias, além disso. Sem paz, cheirosa de solidão. Era acordar sem saber o que esperar da aurora do dia 2 de fevereiro, sabe? Às vezes, seu moço, nascia tão cinza, mas tão cinza que nem a linha do mundo se via, fora de salvador. Vishe, nesses dias eu me afundava naquela rede, ela nem mexia de um lado pro outro. Nem tinha vento nos cachos dela, nem tinha ânimo no meu corpo esquálido. Eu via seu rosto e ouvia seu nome o tempo inteirinho. A terceira baiana sabia dos anos, mais que a primeira, dos anjos. Sabia do tempo. E por isso lhe punha a culpa do queimado da panela, do excesso de pimenta. Pobre de mim!


domingo, 23 de setembro de 2012

de Álvaro de Campos

Cruzou por mim, veio ter comigo numa rua da Baixa, aquele homem mal vestido, pedinte por profissão que se lhe vê na cara, que simpatiza comigo e eu simpatizo com ele e reciprocamente num gesto largo, transbordante, dei-lhe tudo quanto tinha (exceto, naturalmente, o que estava na algibeira onde trago mais dinheiro: Não sou parvo nem romancista russo aplicado. E romantismo sim, mas devagar...).

Sinto uma simpatia por essa gente toda, sobretudo quando não merece simpatia. Sim, eu sou também vadio e pedinte e sou-o também por minha culpa. Ser vadio e pedinte não é ser vadio e pedinte, é estar ao lado da escala social, é não ser adaptável as normas da vida, às normas reais ou sentimentais da vida, não ser Juiz do Supremo, empregado certo, prostituta, não ser pobre a valer, empregado, explorado, não ser doente de uma doença incurável, não ser sedento da justiça ou capitão de cavalaria. Não ser enfim, aquelas pessoas sociais dos novelistas, que se fartam de letras porque têm razão para chorar lágrimas e se revoltam contra a vida social porque têm razão para isso supor.

Não: tudo menos ter razão, tudo menos importar-me com a humanidade, tudo menos ceder ao humanitarismo. De que serve uma sensação, se há uma razão exterior a ela? 
Sim, ser vadio e pedinte como eu sou, não é ser vadio e pedinte, o que é corrente: É ser isolado na alma e isso é que é ser vadio. É ter que pedir aos dias que passem e nos deixem, e isso é que é ser pedinte.

Tudo mais é estúpido como um Dostoiévski ou um Gorki. Tudo mais é ter fome ou não ter o que vestir. E, mesmo que isso aconteça, isso acontece a tanta gente, que nem vale a pena ter pena da gente a quem isso acontece.

Sou vadio e pedinte a valer, isto é, no sentido translato e estou-me rebolando numa grande caridade por mim. (...)

(heterônimo de Fernando Pessoa)

sábado, 23 de junho de 2012

À VERA ANTOUN

London, 19/10/73

“Fui o único culpado da nossa separação
Por isso tenho amargado, margando na solidão
Mas tenho os olhos tranqüilos, de quem sabe seu preço,
Vou navegando, vou temperando,
Pra cima a coisa toda muda.
Pra baixo todo santo ajuda.”

Outro dia senti frio na alma. Foi no Holland Park, pisando num enorme tapete de folhas douradas. Aí senti o outono, o cinzento se acentuando nas coisas, as pessoas se virando para dentro — o inverno chegando depressa, um frio de rachar. Na alma mesmo. As tuas 1.001 cartascheias de sunshine dareavam um pouco os dias, as transas. Que te dizer? Que te amo, que te esperarei um dia numa rodoviária, num aeroporto, que te acredito, que consegues mexer dentro-dentro de mim? É tão pouco. Não te preocupa. O que acontece é sempre natural — se a gente tiver que se encontrar, aqui ou na China, a gente se encontra. Penso em você principalmente como a minha possibilidade de paz — a única que pintou até agora, “nesta minha vida de retinas fatigadas”. E te espero. E te curto todos os dias. E te gosto. Muito. Tô morando, trabalhando, estudando e amando. Esses são os quatro foles da minha vida, no momento, e sobre cada um deles eu teria milhares de páginas a preencher. Sei lá, menina, tá tudo tão legal — e um legal tão batalhado, um legal merecido, de costas e pernas doendo, mas coração tranqüilo. Augusto, Mansa e eu conseguimos um apartamentinho lindo, num lugar ótimo, no aluguel se foi todo nosso dinheiro, Augusto começou a trabalhar logo, eu e Mansa ficamos duríssimos. Foi chato, apanhei uma gripe e alguns grilos — até que esta semana comecei a fazer limpeza numas casas. O primeiro dia foi terrível: eu tinha medo de não saber fazer nada, de não entender nada. Não dormi à noite, tive dor de barriga. Aí me desdobrei, fiz tudo direitinho — o meu inglês aos poucos está começando a fluir e, se ainda não consigo ter uma conversa, pelo menos já me comunico. Isso me deixa feliz à beça, eu tava me sentindo meio retardado, meio analfabeto. Fluência agora é uma questão de tempo. No meio de tudo isso, pintou uma pessoa. É um menino cubano chamado Nelson — ele saiu de Cuba aos 11 anos, morou nos Estados Unidos uma porção de tempo e agora está aqui, estudando dança moderna. É Libra, ascendente Virgem — eu sou Virgem ascendente Libra. Foi, está sendo, lindo. Sei lá, eu tava me sentindo muito cansado, muito carente — e me recusava a procurar qualquer transa. Estava completamente só, há quase seis meses. Eu sabia que ia pintar — eu vim para Londres porque sabia que aqui ia pintar. E pintou. Foi a maior força possível — me recuperei completamente do complexo de inferioridade e de abandono, senti outra vez aquelas coisas, lembrei de todas as letras do Roberto Carlos — fiquei, enfim, meio cafona como sempre fico nessas situações, mas agora já voltei a pisar na terra — tudo fica mais concreto, e eu compreendo melhor. Dei pulos com o endereço da Sílvia — eu não sabia que ela estava aqui. Como não tem telefone, escrevi urna carta ontem. Acho que ela vai pintar aqui neste fim de semana. Vai ser um pouco como rever você, sabe? Acho que você vai gostar de saber: estou há quase dois meses firme na macrobiótica. Não é uma dieta rígida porque, trabalhando, não há mesmo condições. Mas cortei completamente a carne, como arroz integral e muitos vegetais, chá de Mu — não tomo refrigerantes nem café. Só não consigo cortar o cigarro. Mas parei também com o haxixe, porque a minha cuca anda ficando meio pirada ao natural — e eu acho que realmente já passei por tudo isso. Outra coisa: a vontade de escrever VOLTOU. Não sei se foi o impulso que o Nelson me deu, ou mesmo Londres — a verdade é que voltou. Só que eu não consigo escrever a mão — não dá mesmo, uma carta ainda sai, mas um conto não tem jeito — é primitivo e lento demais. Estou tentando economizar para comprar uma máquina de escrever — é o meu sonho atual, bem humildezinho como você vê. Voltei a ver o tarot, depois de deixá-lo descansar por uns dois meses. Parece que Medéia recuperou os seus poderes. Olha, estou com a sensação de estar escrevendo uma carta muito besta. Vou parar. Abro à toa o Fernando Pessoa e peço uma mensagem para ti. Ele manda dizer isto:“Tuas mãos esguias, um pouco pálidas, um pouco minhas,
Estavam naquele dia quietas pelo teu regaço de sentada,
Como e onde a tesoira e o ideal de uma outra.
Cismavas, olhando-me como se eu fosse o espaço.
Recordo para ter o que pensar, sem pensar.
De repente, num meio suspiro, interrompeste o que estavas sendo
Olhaste conscientemente para mim e disseste:
‘Tenho pena que todos os dias não sejam assim’.”
Podem voltar a ser, quem sabe? Acendo vela, queimo incenso — falo de você para Augusto e Mansa, lembro Leme, Botafogo, coloco o disco da Gal e fico ouvindo The archaic lonely blues — eu sei não me diga. Verinha, tudo passa, tudo vai embora — a gente tem que se encontrar. Meu livro deve sair no Brasil talvez até o fim do ano — eu ganharia + ou - 2.000 com a publicação — a gente podia usar esse dinheiro para a tua passagem, não é? Mas, sei lá, não queria que você viesse apenas por mim, entende? Em qualquer circunstância, eu acho, a experiência Europa é fundamental — desde que não se corte nenhum processo importante por aí. E pelas minhas cartas suecas você deve ter percebido que não é absolutamente uma coisa leve. A gente sangra e geme — mas sai mais vivo, “com a vida dividida pra lá e pra cá”. O que não queria é que você futuramente talvez me culpasse, entende? Mas acho que é besteira ficar tentando desvendar o futuro — apesar do tarot e do 1 Ching. Ao mesmo tempo gostaria que tomássemos alguma providência sobre a sua vinda. Mande me dizer o que você pensa de tudo isso mas pense bem, é uma coisa séria — muito mais do que a gente pensa quando está aí. Vou dormir. Amanhã é sábado, tem Portobello. Estou morto de cansaço, e minha cuca dói de tanto esforço, o dia inteiro, para pensar, falar e entender inglês. Às vezes, falando ou escrevendo em português, tenho uns brancos — só vem inglês. Ou acabo apanhando uma antipatia mortal por essa língua ou viro o maior admirador da face da Terra. Quero sonhar com você, com o sol e o cometa que vem no fim do ano — eu tô sabendo.
Caio.

Norman Mclaren - Canon (1964)

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Esse sábado fui conhecer o Cine Jóia, um cineminha independente aqui de copacabana (o único do bairro - acho - me corrijam se eu estiver errada), super charmoso. Fica numa galeria na Nossa Senhora, entre a Santa Clara e a Figueiredo, quem tiver interesse em mais informações, favoritei o blog deles nos meus "afins" ali na direita, embaixo. 
Assisti ao filme "As Neves de Kilimandjaro", um drama francês super interessante que deixa um fiozinho de esperança acerca do lado bom das pessoas. O diretor é o Robert Guédiguian que dirigiu o "Último Verão" em 81 retratando o fechamento das fábricas de Marseille, cidade em que nasceu. MAS... Voltando às neves e as minhas críticas "sucintas" (e preguiçosas), achei um filme altruísta. Mostra que o Guédiguian, apesar dos pesares, acha que o ser humano ainda pode abrigar um bom coração.
Acabei indo ler alguma coisa a respeito da direção e descobri que a Agat Films é uma das poucas produtoras francesas que são, ainda, cooperativistas. Acho esse esquema de produção sofrido, mas válido. Trabalhar em esquema socialista nessa altura do campeonato pode ser sinal de loucura (e claro sinal de lutar contra a corrente), mas pelo sim ou pelo não, trouxe a tona um bom filme. Recomendo fortemente.
O filme tem uma naturalidade peculiar, é "rotineiro" desde o figurino até a atuação.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

1890

"Ando nas ruas do centro. Estou lembrando tempos enquanto lhe vejo caminhar aguando a calçada. Um barbeia um velho. Deita a noite e diz poesia (serenata). Vinho enquanto ouve choro costurar. Passei em casa, seu Zé não estava. Memórias Senhor Brás Cubas postumavam enquanto vi passar Helena pra casa de chá. Devagar, bonde na praça ainda borda delicadeza. Torna a gente banca de flores libertando sorrisos no ar"

quinta-feira, 3 de maio de 2012

O nosso jogo é perigoso, menina. Nós somos fogo, nós somos fogo, nós somos fogo e gasolina.
Nós somos fogo, nós somos fogo, o nosso jogo perigoso combina. Nós somos fogo, nós somos fogo, nós somos fogo.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

A mais cortante de todas as minhas inquietações é querer a tua disponibilidade.

sexta-feira, 16 de março de 2012

O meu problema é que você, passarinho, não voa depois das onze quando quero te contar por onde passei o dia inteiro e do risco que corri ao pousar naquele fio desencapado. Você não voa depois das onze quando quero registrar nos olhos aquele céu-copacabana, aquela areia branca, quando quero o cheiro de maresia nas penas das tuas asas curtas. Já estava bom se a gente voasse na orla e fizesse parte do pôr-do-sol na pedra do arpoador. O meu desalento é não te ouvir cantar pra lá das dez, passarinho, não te ouvir respirar perto do meu ninho, não te-colorir do meu desejo e ter que guardar minhas metáforas. E aí, como é que gasto essa falta de 'vôo-longe'?

quinta-feira, 15 de março de 2012

Talvez eu queira te promover só hoje, te alocar como ansiedade pela manhã e um curto desejo noturno na minha boca.

terça-feira, 13 de março de 2012

De virada desço o queixo
E rio amarelo. 

segunda-feira, 12 de março de 2012

O que faz um bom letrista:

Pode ser um lapso do tempo. E a partir desse momento acabou-se solidão. Pinga gota a gota o sentimento que escorrega pela veia e vai bater no coração. Quando vê já foi pro pensamento. Já mexeu na sua vida, já varreu sua razão. Acelera a asa do sorriso. Muda o colorido, vira o ponto de visão. Cai o medo tolo, cai o rumo quando a terra sai do prumo eu estou perto de ti. Abre-se a comporta da represa desviando a natureza pra um lugar que eu nunca vi. Uma vida é pouco para tanto, mas no meio desse encanto tempo deixa de existir. E é como tocar a eternidade. É como se hoje fosse o dia em que eu nasci. Livre, quando vem e leva. Lava a alma, leve e vai tranquila e a pupila acessa do seu olho disse love. Bem, se não for amor eu cegue.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Crônica de paralelepípedo

Se você tem tempo e neurônios qualquer coisa vira prosa fácil. Dou um valor inestimável a sentar no balcão de um bistrozinho vagabundo no centro histórico do Rio pra comer um crepe e depois tomar um expresso. Ainda mais quando o verão dá uma trégua, como foi o caso hoje. Espiei a família dona do 'casa velha', um senhor de uns 70 e poucos ajeitando a disposição dos bancos e o filho de uns 40 e tal arrumando a bancada pra almoçar quando a casa já não está em horário de pico. Esse programa-rotina denunciou minha posição astrológica de maneira contumaz e pra disfarçar eu não posso deixar de reclamar desse app do blogger que não me permite justificar o texto.



quarta-feira, 7 de março de 2012

Vou começar logo dizendo que não tenho conhecimento de causa e que a pauta do dia é CASAMENTO. Conversei com o Nelson hoje, às sete da manhã, numa breve pausa do tema "modalização da narrativa jurídica", a respeito dos efeitos jurídicos e judiciários do casamento e, pra completar, peguei no trabalho uma inicial de anulação de casamento em virtude de indução a erro - que nem é da minha competência na DPGE - mas ensejou a discussão. Ou seja, o dia foi todo trabalhado no "até que a morte nos separe" (ou no 'até que o juiz homologue nosso divórcio').

Convivência tanto fortalece uma relação quanto aponta as características de um e de outro que vão te provar que casar não é um mar de rosas. O problema é, em virtude disso, entender o casamento como uma instituição falida. Imagino que a grande dificuldade das pessoas seja delimitar seus objetivos com vistas a temporalidade. Em outras palavras, ter foco não só no dia do 'sim'.

Talvez seja meio ridículo da minha parte escrever isso aos vinte. É bem verdade. Mas não dava pra escrever na writelist e esperar pra postar daqui a dez anos, sorry. Algumas separações litigiosas versam sempre sobre o mesmo motivo, que se traduz em 26 letrinhas: falta de objetivo convergente e que se sintetizam em 6: chifre. Estar casando ou estar casado não pressupõe que as partes querem ter a mesma liberdade dos seus vinte anos. A casa dos vinte está - sim - muito ligada a liberdade no sentido lato e estrito da coisa. Você quer transpor os limites profissionais, subir degraus, levantar o nariz e dizer "não devo nada a ninguém", "deixei de ser dependente", "alcancei metas", etc. Essa liberdade vanguardista, rebelde, fluida e pedante que chega até a parecer "libertação", às vezes, é uma coisa evidentemente positiva. Mas positiva, AOS VINTE.

Os trinta pressupõem uma fase humanamente construtiva e não àquela de quebrar todas as correntes e sair arrastando como um troféu. Nela o ser humano busca apoio em relações não corriqueiras. E esse sim é o momento de construir pra usufruir depois. Sempre que me perguntam, digo muito claramente: Eu nunca sonhei em casar e não traço frequentemente metas de adequar esse momento a uma certa idade. Esse ritual do vestido branco e do "na saúde e na doença" não me amedronta e nem me fascina. Diferente das relações humanas que me causam uma ebulição etérea entre as duas opções.

terça-feira, 6 de março de 2012

Engolidos pelo sistema

Pega uma xícara de mocha aí porque hoje eu vou reclamar, falar de política, atacar de revoltada, etc. A pauta é "refugiados". Toda essa rebeldia começou com a OFL do conselho de segurança da ONU que eu comecei a fazer semana passada e escrever essa semana. Nós, no século XXI, temos pessoas afugentadas - e por que não dizer expulsas - dos seus países de origem e proibidas de entrar em outros. Essa é a minha descrição de refugiados e, sejamos francos, não é isso que o nome propriamente dito, em seu sentido literal, sugere.

Aos olhos do "mundo" não é o que eles são. Me diz você quantos são os olhos xenófobos enquanto Estado? Eu digo.... Todos são. Aos olhos do mundo eles estão ou na condição de fugitivos ou na condição de expulsos porque deram causa a isso. Será que realmente deram? The thing is, que poder é esse que a sociedade tem de decidir coligar a condição de precariedade a espécie humana? É isso mesmo que tem acontecido corriqueiramente. Cada caso é muito peculiar, no entanto nunca me pareceu plausível imputar uma condição de extraterritorialidade forçada por motivo de guerra ou por motivo religioso, nem por motivo cultural, nem por qualquer que seja o motivo. Ainda mais porque muitas vezes se fala em coagir e punir uma geração diferente da geração conflitante. E mesmo que um grupo se utilize disso pra punir uma nação conflitante, inevitavelmente vai estar punindo uma geração imediatamente posterior. Cidadania e moradia deixaram de ser direitos quando? Não me contaram.

Segundo Bauman, em Amor Líquido, um livro que terminei esses tempos, a ACNUR levantava (na época em que foi escrito) entre 13 e 18 milhões de pessoas que foram simples e puramente "vítimas de deslocamento forçado" (no linguajar eufêmico da coisa). São pessoas que cruzam as SUAS PRÓPRIAS fronteiras pra ter alguma chance de sobreviver ou, que sobrevivem alheios das condições de cidadania dentro dos seus próprios países. Não precisa ir pro oriente médio pra ver isso acontecer claramente. Basta olhar pra América do Sul. Basta olhar pra Colômbia, por exemplo. Parece poético, romântico ou "chame como quiser" quando vemos isso como tema de filmes, não é? Não, não parece. Tem só me parecido muito real.

É o que eu chamo de ser engolido pelo sistema.

quinta-feira, 1 de março de 2012

SEPAR-ATION

Ontem fugi de ipanema correndo pra botafogo e assistir a Separação. Teci um muito breve comentário no facebook, como faço costumeiramente e passei outra breve parte da noite pensando nele e querendo abrir o aplicativo pra escrever aqui. Mas confesso... Quando os dias começam às seis, as palavras se embaralham à meia noite e lá pelas tantas eu já estou com uma xícara de chá ao leite ao lado da cama, um gato entre as pernas e o cobertor até o pescoço.

Continuando... Não achei um filme digno de oscar, até então. Não sei se assisti a algum dos outros indicados porque não parei pra olhar a lista ainda, mas com certeza, esse ano, assisti a melhores títulos estrangeiros do que este, apesar de ser um filme com inúmeras qualidades. Quero lembrar aqui, que eu não vou comentar o filme tecnicamente porque não tenho know-how pra isso e sim vou comentar sempre, sempre, sempre como mera expectadora que, no final das contas, é o que eu sou. 

Do meio pro final fiquei tentando elencar na minha cabeça tudo o que o diretor pensou, as cenas que deixou passar/perdeu pra terminar honestamente (não que a cena do final seja descartável, claro. Não é). Depois de desistir da adivinhação, comecei a realizar o que significa realmente SEPARAÇÃO, pra mim. Após a quebra dos vínculos, as situações não devem seguir munidas de um juízo de valor massacrante. Não passam a ser erradas, louváveis, etc. Elas simplesmente passam a ser menos importantes e destituídas de qualquer daqueles juízos se o 'nós', 'eles', etc, não mais existe. Se trata só de levantar uma confiança recíproca, um companheirismo recíproco com quem ficou ou apareceu desta quebra quando você não pode levantar esses dois sentimentos pela pessoa que se foi (e no caso do filme, ninguém "se foi" diretamente).

No divórcio, eu diria, ficam os filhos, principalmente. Nas meras separações (talvez eu esteja sendo audaciosa ao chamar assim), os amigos, os amores ou pessoas posteriores que te dizem uma, duas ou três palavras de respeito puro as quais você simplesmente dá um valor inestimável, tanto valor aos segredos quando tem certeza que continuarão a ser segredos, as conversas que ganharam toques de íntimas. Considerei depois desse momento taxativo que  separação me parece algo como um ponto de partida para seguir em frente e talvez por isso eu esteja, ainda, um pouco distante de ter uma opinião sólida a respeito dessa obra. SPOILER (não leia): A cena do final sugere uma espera eterna enquanto você vê os créditos iranianos subindo e nada entende (rs, até brinquei: "olha aí o diretor de fotografia passando!"). Esperar a decisão de um filho, acredito, seja uma tortura pra quem já passou por isso e desconhece as maravilhas da guarda compartilhada. Mas separação em si, não se trata em uma espera eterna pra mim e por isso, talvez, tenha subestimado o final. Pelo contrário, quando a separação de fato chega (e entenda 'DE FATO' como o momento em que você realmente se dá conta de que não quer mais fazer parte daquilo), a última coisa que você quer e faz é esperar do outro, porque você não se sente mais apto a isso. Nesse caso, um final que deixou 'esperando algo a mais', não era, sendo bastante redundante, o que eu esperava da obra. Se é que vocês me entendem.

E pra finalizar - necessariamente, porque cá estou eu sempre me prolongando e me atrasando como se a vida lá fora não existisse - entendo que o filme realmente se perdeu em algum ponto (e ainda não sei qual), como dizem as 'más-e-sábias-línguas', do meio pro final. E essa crítica sim, metalinguisticamente falando, fez muito sentido se comparada ao título. Ora, separação não é exatamente isso? Não vão esperando por um final resoluto, é o conselho que eu dou. Tem coisas que não te contemplam com um final apoteótico ou um final "soco-no-estômago", mas que vão te deixar pensando até o dia seguinte. Fora isso, o filme retrata quase que maravilhosamente a realidade cultural de toda a situação e das tramas paralelas, desenvolve muito bem a parte moral, religiosa e legal do local. O valor está aí e também nos personagens, que achei muito peculiares.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Sempre disse que o pôr do sol não tem o mesmo valor do nascer, ainda mais quando se trata de copacabana e sentir o cheiro de estar em casa na areia gelada sob os pés.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Amor não é poesia, amor é um domingo, Vinícius e uma taça de vinho. Amor não é poesia, não, senhor. É um bistrô e dividir uma quarta-feira. Amor não é poesia. É um café e as gravações da sua voz, as fotos que você mandou. Amor são as lembranças que você teve ao longo da rua e deixou na minha caixa de correio. Amor que é amor, não é poesia, não vem de um só, não é tentativa. São as linhas dos seus braços até a orelha, são as mil bocas do meu rosto paradas no seu pescoço. Amor são suas mãos na mesa. Amor que é amor, não é poesia. Vê?

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Quando eu digo que o universo conspira a meu favor, não é brincadeira.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Adrenalina. Sujeira. Sangue correndo. Terra. Mato. Oxigênio. Mar. Folha. Pedra. Adrenalina. Sujeira. Sangue...


Bruschettas n' wine w/ reliable people

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Água e gasolina

Na realidade, todo ser humano adulto e com a saúde 'ok' tem pleno controle de como se sente, de como se expressa, do quanto sofre, do quanto se auto-destrói. Basta que ele plante alguns potenciais dentro de si pras coisas acontecerem. Pode parecer muita frieza da minha parte, mas você sempre tem que saber por onde olhar quando a dimensão da perda/problema é muito grande. Se você planta em si potenciais de auto-destruição e sofrimento por muito tempo, quanto mais situação aparecer, mais você inflama. Se você planta potenciais de calmaria e procura enxergar as soluções, você se vê em paz. A vida não é um ciclo de alegrias ininterruptas, tal como não é de tristezas.

Pode ser ousadia da minha parte dizer isso... Apesar de leiga, vejo que os maiores males contemporâneos - quero dizer: ansiedade, depressão, traumas - giram em torno do que a pessoa deixa congelar dentro de si e quantas vezes. Ninguém faz ideia do que vem do outro. Ninguém faz ideia de que vai crescer num lar infiel. Ninguém faz ideia de que vai passar por um problema financeiro. Ninguém faz ideia de que vai perder uma mãe, um pai ou o amor-da-vida. Mas todo mundo faz ideia do que é uma reação adversa e do que é uma reação proporcional. É a lei, se você planta potenciais de auto-destruição constantemente você é como gasolina mediante fogo e oxigênio, se você planta paciência, você é como água, nessas mesmas circunstâncias.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Simone inbox:

Bom dia, querida. Hoje é dia de Iemanjá, muito axé pra gente!
Te amo,
Mamãe.


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segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Quem não tem cão, caça com gato

Passei três dias viajando e morri de saudade do meu filho, rei, príncipe, lorde, como queiram chamá-lo, ele me recebeu com muitos miados e entrando na minha mala procurando presente, sinceramente.... Esse fofinho foi uma das melhores coisas que me apareceu. Eu sou canceriana, adoro cuidar e aí surgiu essa coisa peluda pra ser só meu, amar só a mim, etc... Essas coisas que eu gosto. Coisas da vida. Ele é grudento, ciumento, fica deprê quando eu viajo.. Não nasceu cachorro por questão de segundos. 

Outra coisa que quero dizer a vocês, que por sinal, não tem nada a ver com o assunto e nem com o título...... Se tiverem oportunidade de assistir a um show da Florence, assistam, ESSA MULHER É FORA DE SÉRIE AO VIVO! E ainda veio a Rox de brinde cantando Bang Bang da Nancy Sinatra pra abrir o festival, claro que me vieram todas as cenas de Kill Bill a cabeça e eu já estava aos berros na pista, me sentindo a própria Beatrix Kiddo em Floripa e vendo o sangue "Tarantinesco" voando por todos os lados. Que dia maravilhoso esse e com pessoas maravilhosas. Reliable people é tudo o que você precisa na vida, falem a verdade... É!

A outra novidade é que essa última semana aqui no Rio estive conversando, lendo, etc e resolvi marcar um horário em um templo budista que se chama Kadampa lá em botafogo. Pra mim é muito claro que eu sou católica por formação, cética por natureza, neurolinguística por confiança e curiosa acima de todas as outras coisas, então decidi que antes de passar o mês em Paris ou Lyon (tô me decidindo ainda) tenho que fechar os pontos. Esse é um deles.... É isso. Ficou pra amanhã depois do trabalho e claro que já tô ansiosa desde hoje, rs.

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Zhora acabou de ficar preso dentro da gaveta, achei que ele fosse quebrar todas as costelas agora. Nesse ponto, acho que ele é bem gato mesmo e não cachorro. Dei uma pausa pra tirar ele lá de dentro pelas patinhas. Cara, um dia eu ainda morro de desespero.

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Hoje, o post, minha posição e porcentagem astrológica e os cigarros mentolados do fim de semana vão pra Giulia in the sky w/ diamonds. Bisous!

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Eugênia,

Sinta o gole quente do café que eu fiz pra ti tomar. Sinta o gole quente do café que eu fiz pra ti tomar. Te tomar de alegria todo dia. Antes da manhã chegar. Te tomar o tempo livre. Que delícia. Nos teus braços te ficar. Sinta o gosto tão gostoso do namoro. Sina no morro da paixão. Chão não existe quando ama. Nuvem desce. A gente voa. Estrelas. Se essa rua. Se essa rua. Fosse minha. Eu mandava ladrilhar. Todos os dias assim. Todos os dias assim. Daqui pra frente
Todos os nossos
Dias serão mais felizes.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Janeiro foi um mês que me dediquei a escrever mais e fazer isso todos os dias, quando você sai de uma fileira de leituras densas da literatura russa, faz com que você expanda os sentidos mais contemplativos, eu acho. Na época em que eu competia e fazia meditação isso também acontecia com frequência. Você antevê as coisas e aprende a contemplar mais. Pode parecer besteira, mas você passa a ver o verde mais verde, o azul mais azul, entende essas coisas?

O meu espírito geralmente não é contemplativo, eu ando pelas ruas do centro do Rio de Janeiro pensando em tantas coisas que mal escuto um pássaro na soleira ao meu lado ou um acidente de carro na esquina e, de fato, não estou sendo hiperbólica. Sabe quando você se escuta.........: justificar ausência em plebiscito, prazo de recurso, ligar pro cara da tela, chamar diarista, 789,46 na conta, aplicar o salário na poupança-frança, ligar pro gerente, embargo de declaração pra amanhã, cotação do euro, verificar orders, prazos, prazos, prazos... E por aí vai. A única coisa que você ouve, é sua própria cabeça. 

Hemingway já dizia há muito tempo que inteligência é inversamente proporcional a felicidade e, não querendo discordar, mas repaginar o genial integrante da geração perdida, não são os mais inteligentes.... Acho que o que nós perdemos é exatamente meia horinha em casa com o computador ligado só cuspindo as coisas da mente sem muito filtrar ou se dar conta do significado de ''pequenas felicidades''. E aí de repente o livro fica com um cheiro melhor, a árvore mais verde, a praia mais bonita, etc

Isso é tudo consequência de articular o que você sente, afinal... "keep calm and blog on" tinha que, por mais ridículo, fazer algum sentido. Fazia tempo que não expandia esse leque sensorial, desde que deixei de lado o feroz comércio de Antony Robbins e quase esqueci o quanto isso é bom e o quanto acontece naturalmente. Quão prazeroso é aquele momento em que você se esquece dos leões que você tem que matar diariamente? Isso porque os meus, provavelmente, são leõezinhos e se eu errar o tiro, tem alguém por trás pra consertar, eventualmente.

Eu vinha pensando nisso hoje no metrô. Crônica, literatura, não interessa o que você escreva e nem o que você queira com isso. Como uma boa canceriana eu diria que hábitos vem sempre munidos de resultados.


domingo, 22 de janeiro de 2012

Por Zygmunt Bauman

Trinta anos atrás (em O declínio do homem público), Richard Sennett observou o advento de uma "ideologia da intimidade" que "transmuta categorias políticas em psicológicas". Isso nada mais é do que o resultado da substituição de interesses compartilhados por identidades compartilhadas.


sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

A questão é: GANHEI UM GATO. Isso mesmo, quatro patas, olhos azuis, majestoso. Minha terapeuta está com ele há dois anos, mas ele não se adapta com outros animais, só com pessoas e ela tem mais três gatinhos em casa. Alguém, algum dia, iria unir a minha solidão ao meu apreço pelos bichinhos... Pronto. Me deu de presente. É claro que, cuidadosa, eu me desesperei de antemão, disse que passo o dia fora trabalhando e que minha grade esse semestre com oito matérias não vai aliviar meu horário. Bom... Ela disse que ele é muito independente, está acostumado a ficar sozinho quando ela sai pra atender e que isso não é um grande problema. Eu disse que viajo frequentemente e ela se ofereceu para cuidar dele quando precisasse. Fora isso, particularmente, não enxerguei mais nenhum empecilho, abri os braços, o coração, a porta, telei a janela e disse: Vem com a mamãe.

Amanhã vou acordar cedo, comprar uma caminha, uma caixa de areia e todas aquelas coisas que eles precisam. Eu ia exagerar e comprar, inclusive, um guizo pra pendurar no pescoço dele, mas logo desisti, dada a possibilidade de eu nunca mais dormir por causa do barulho. Ele tem dois anos, é adulto e acho que isso vai ser como casar com um homem de 40, cheio de manias e crises relacionadas a lares anteriores. Claro, eu estou tão preocupada que juro estar considerando não ir mais ao show da Rita Lee a noite, só pra ficar com o bicho. Estou ansiosa, eu acho, né, ok, vai passar. 

Ah! Também tem outra coisa, ele já vem com nome e isso é um caso de pesquisa B I Z A R R O porque to achando que deram a ele o nome errado. É Zohá, zorrá, zo..sabe lá como se escreve e significa "Sol" em japonês. Essa é a dúvida. De como escreve e se realmente tem esse significado. Eu não queria esse nome, sabe, queria Monet, afinal tem muito mais a ver comigo ter um gato homenageando um impressionista francês que eu gostava muito na época em que eu pintava (sim, eu pintava todos os quadros do meu antigo apartamento de Salinas, mas esqueçam essa parte). E como o gato tem 2 anos de idade, eu não pretendo mudar o nome dele e deixar o animal vivendo uma grande crise de identidade. Então é isso. Vou assumir o "Zoh/rrá" signifique "sol" ou "asfalto". Ele chega amanhã às nove. Dedos cruzados.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Carnage

A pura realidade é que eu não sei se já fui com um olhar negativo, apesar dele ter tropeçado na adoração quando vi que Polanski escolheu Desplat pra trilha sonora, logo pensei "É AGORA! Não tem como dar errado". Júlia Lemmertz e Kate Winslet, olha... foi pário duro e isso é bom, porque nos faz dar valor a atuação nacional, Deborah Evelyn perdeu de lavada pra Jodie Foster, é claro. Mas, como eu havia dito, não adianta... Não sou conivente com os diretores que eu gosto, foi sim cansativo. Tenho gente na minha timeline que certamente chamaria Carnage de um filme maravilhosamente brilhante por ter um dedo europeu, ou franco-polonês, especificamente. Olha, não sei ser assim. War Horse, por exemplo, assisti um dia desses, é hollywoodianamente belo e não seria genial se a produção tivesse uma mão de outra nacionalidade. Apenas não seria, como Carnage não foi. 

Mas vamos lá, o texto tem pontos altíssimos, citações boníssimas, afinal de contas ninguém que trabalhou ali é desprovido de conhecimento, todo mundo sabe disso. Como eu disse antes, Yasmina Reza redigiu uma comédia francesa, pra que forçar a barra? Essas duas palavrinhas são condicionais e às vezes até demais, como é o caso. Mas é sempre bom ver a coisa sob outra ótica, o que me fez prestar atenção que ter me rendido antes à crítica 'tabloidiana' da maravilha que foi a mesa de lego como cenário da produção teatral brasileira teria 'pegado mal'. A personagem que Yasmina quis passar NUNCA teria uma mesa de lego na sala, Polanski notou isso, é claro. Se quisesse tornar a coisa mais brasileira que colocasse uma mesa de mogno, sei lá! Bom, a gente nunca sabe como o diretor vê a coisa ficar mais divertida. Como eu disse antes, um curta ou média-metragem teria caído bem.
O meu ar tá demorando a gelar ou eu tenho calor e pressa.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

domingo, 15 de janeiro de 2012

sábado, 7 de janeiro de 2012

Deus da Carnificina

Como vocês bem sabem, janeiro é o mês em que as peças explodem no cenário cultural carioca, ontem fui assistir a Deus da Carnificina no Teatro Leblon e PUTS..... Eu sou fãzassa das críticas sucintas e acho que não há nenhuma outra que se adeque melhor a essa produção que não seja: covardia. 

Eu poderia falar dos elementos de cena muito bem arranjados, da movimentação organizada, iluminação básica, da mesa de lego MARAVILHOSA como cenário e das cores miscigenadas com bom gosto me valendo do tipo das críticas, tabloides, jornais e etc............. Na minha humilde opinião, de mera espectadora, foi uma covardia muito grande colocar um elenco sensacional que compreende Paulo Betti, Julia Lemmertz, Deborah Evelyn e Orã Figueiredo pra levar a cabo o texto massante da trama. Eu não sou tão fã de comédia, por exemplo, mas eu gosto da peculiaridade da comédia parisiense e até francesa em geral, acho que tem seu charme, tem valor social, mas meu amigo..... Eloisa Ribeiro, você não tem minha simpatia como tradutora.

Eu não vou negar que o texto cresce sim durante as duas horas de peça e que dei algumas gargalhadas no passar das linhas (quando o Paulo Betti - por exemplo - SPOILER, NAO LEIA: quer transformar a mãe de um dos seus desafetos em testemunha), mas se tem uma coisa que aprendi a notar com o tempo no teatro brasileiro é que o elenco não faz a peça (no máximo, dá uma ajuda). A original da Yasmina Reza, agradou ao Polanski. Me sinto até imbecil às vezes em dizer que achei o texto cansativo. No geral as comédias francesas de classe média tem uma característica meio cronista mesmo, meio trivial sometimes, ou seja, você tem que ir sabendo o que esperar. Talvez por isso elas sejam boas comédias francesas e não boas comédias brasileiras.  Se é que vocês me entendem. Bom, de qualquer forma, o Polanski deve lançar em 2012 a versão pro cinema dessa grande chatisse que eu vi ontem, com a Kate Winslet e a Jodie Foster.

Eu gosto do Polanski, apesar de pedófilo (e o que eu ia falar não tem nada a ver nem com a atração dele por crianças e nem com a minha admiração), mas não é o tipo do diretor que, por simpatia, eu consigo ser conivente. Como é o Almodóvar pra mim, por exemplo..... Mentira, achei "Má Educação" um filme TRISTE, não consigo ser conivente com nenhum, eu acho.... Em todo caso, o que eu tinha a dizer é que ele tem minha simpatia em épocas como sei lá... 73, 2002 e 2010, por exemplo, mas convenhamos ele é um cara que "flerta com o destrambelhamento total"(CK) como diriam as más línguas. O que esperar?

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Tem briga de marido e mulher que só metendo a colher

Olha, vou te contar, se um dia eu for parte de um casal chato, que briga em público, por favor, me avisem pra eu me divorciar a tempo de não precisar que uma sobrinha, prima, amiga solte um "EI" dentro do carro pra apartar a chatisse. Casal chato é uó, bora combinar, ajuda a estragar qualquer programa.

A verdade é que quando se é jovem, não há nada que um fone de ouvido não resolva na companhia dessas criaturinhas da natureza que por algum motivo cósmico travaram matrimônio. Quando se é mais velho, como a minha mãe, por exemplo, dá tempo de olhar a paisagem e divagar sobre os benefícios do casal homossexual, da viagem entre amigos, etc. Mal sabe ela.

Bom, pelo menos, hoje eu soltei uma "EPA" pra um casal chato e depois vi meus pais com suas 22 primaveras abraçados em algum momento na Reserva rindo das brincadeiras de sempre. Aliás... De sempre MESMO. Há 20 primaveras participo de algumas.

domingo, 1 de janeiro de 2012

twelve

 Poderia desejar milhões de coisas pra você, mas não é assim que a vida funciona. O que veio antes, vou te contar, teve seu fim - em uma palavra - repleto. De sorrisos, de peixes, de azul, de família, de abrigo, de amigos. Eu considero seu ex, se é que me permite assim dizer, um momento em que as portas se abriram e em que pulei pra dentro. No regrets. The best thing i've ever had. Senti como se não estivesse vendo minha vida passando em frente de barquinho, mas como se ela estivesse bem segura em minha palma, estourando em caga fogo de artifício. É, ele me trouxe todas as formas de encarar as dificuldades de frente e disse: "amadureça", "vire mulher", "trabalhe", "ajude seus pais", "encontre meios pra perseguir os seus objetivos", "conserve suas amizades", "não aposte demais nas pessoas", "continue amando com tudo o que pode", "caia e levante-se", "erre e conserte", "mantenha contato com sua família", "exerça controle sobre seus medos", "aposte e acredite", "cuide da sua saúde". As rédeas - pra você - então...... Bem apertadas. Eis que olho pela janela e seis meses depois de morar nesse apartamento, descubro que dá pra ver o Corcovado da minha cama se eu só deitar com a cabeça pro outro lado, esse foi 01/01/2012 e por isso eu não esperava. Continuar assim, não esperando, só mudando a ótica apenas sabendo que você sempre traz portas, é tudo o que eu preciso e sempre precisei ainda que eu não soubesse. Qual abrir agora? São portas e não mudanças, como o resto das pessoas pensam. Eu digo nos  meus conselhos gratuitos "Change is just and always up to you".

Bonne année!