sexta-feira, 16 de março de 2012

O meu problema é que você, passarinho, não voa depois das onze quando quero te contar por onde passei o dia inteiro e do risco que corri ao pousar naquele fio desencapado. Você não voa depois das onze quando quero registrar nos olhos aquele céu-copacabana, aquela areia branca, quando quero o cheiro de maresia nas penas das tuas asas curtas. Já estava bom se a gente voasse na orla e fizesse parte do pôr-do-sol na pedra do arpoador. O meu desalento é não te ouvir cantar pra lá das dez, passarinho, não te ouvir respirar perto do meu ninho, não te-colorir do meu desejo e ter que guardar minhas metáforas. E aí, como é que gasto essa falta de 'vôo-longe'?

quinta-feira, 15 de março de 2012

Talvez eu queira te promover só hoje, te alocar como ansiedade pela manhã e um curto desejo noturno na minha boca.

terça-feira, 13 de março de 2012

De virada desço o queixo
E rio amarelo. 

segunda-feira, 12 de março de 2012

O que faz um bom letrista:

Pode ser um lapso do tempo. E a partir desse momento acabou-se solidão. Pinga gota a gota o sentimento que escorrega pela veia e vai bater no coração. Quando vê já foi pro pensamento. Já mexeu na sua vida, já varreu sua razão. Acelera a asa do sorriso. Muda o colorido, vira o ponto de visão. Cai o medo tolo, cai o rumo quando a terra sai do prumo eu estou perto de ti. Abre-se a comporta da represa desviando a natureza pra um lugar que eu nunca vi. Uma vida é pouco para tanto, mas no meio desse encanto tempo deixa de existir. E é como tocar a eternidade. É como se hoje fosse o dia em que eu nasci. Livre, quando vem e leva. Lava a alma, leve e vai tranquila e a pupila acessa do seu olho disse love. Bem, se não for amor eu cegue.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Crônica de paralelepípedo

Se você tem tempo e neurônios qualquer coisa vira prosa fácil. Dou um valor inestimável a sentar no balcão de um bistrozinho vagabundo no centro histórico do Rio pra comer um crepe e depois tomar um expresso. Ainda mais quando o verão dá uma trégua, como foi o caso hoje. Espiei a família dona do 'casa velha', um senhor de uns 70 e poucos ajeitando a disposição dos bancos e o filho de uns 40 e tal arrumando a bancada pra almoçar quando a casa já não está em horário de pico. Esse programa-rotina denunciou minha posição astrológica de maneira contumaz e pra disfarçar eu não posso deixar de reclamar desse app do blogger que não me permite justificar o texto.



quarta-feira, 7 de março de 2012

Vou começar logo dizendo que não tenho conhecimento de causa e que a pauta do dia é CASAMENTO. Conversei com o Nelson hoje, às sete da manhã, numa breve pausa do tema "modalização da narrativa jurídica", a respeito dos efeitos jurídicos e judiciários do casamento e, pra completar, peguei no trabalho uma inicial de anulação de casamento em virtude de indução a erro - que nem é da minha competência na DPGE - mas ensejou a discussão. Ou seja, o dia foi todo trabalhado no "até que a morte nos separe" (ou no 'até que o juiz homologue nosso divórcio').

Convivência tanto fortalece uma relação quanto aponta as características de um e de outro que vão te provar que casar não é um mar de rosas. O problema é, em virtude disso, entender o casamento como uma instituição falida. Imagino que a grande dificuldade das pessoas seja delimitar seus objetivos com vistas a temporalidade. Em outras palavras, ter foco não só no dia do 'sim'.

Talvez seja meio ridículo da minha parte escrever isso aos vinte. É bem verdade. Mas não dava pra escrever na writelist e esperar pra postar daqui a dez anos, sorry. Algumas separações litigiosas versam sempre sobre o mesmo motivo, que se traduz em 26 letrinhas: falta de objetivo convergente e que se sintetizam em 6: chifre. Estar casando ou estar casado não pressupõe que as partes querem ter a mesma liberdade dos seus vinte anos. A casa dos vinte está - sim - muito ligada a liberdade no sentido lato e estrito da coisa. Você quer transpor os limites profissionais, subir degraus, levantar o nariz e dizer "não devo nada a ninguém", "deixei de ser dependente", "alcancei metas", etc. Essa liberdade vanguardista, rebelde, fluida e pedante que chega até a parecer "libertação", às vezes, é uma coisa evidentemente positiva. Mas positiva, AOS VINTE.

Os trinta pressupõem uma fase humanamente construtiva e não àquela de quebrar todas as correntes e sair arrastando como um troféu. Nela o ser humano busca apoio em relações não corriqueiras. E esse sim é o momento de construir pra usufruir depois. Sempre que me perguntam, digo muito claramente: Eu nunca sonhei em casar e não traço frequentemente metas de adequar esse momento a uma certa idade. Esse ritual do vestido branco e do "na saúde e na doença" não me amedronta e nem me fascina. Diferente das relações humanas que me causam uma ebulição etérea entre as duas opções.

terça-feira, 6 de março de 2012

Engolidos pelo sistema

Pega uma xícara de mocha aí porque hoje eu vou reclamar, falar de política, atacar de revoltada, etc. A pauta é "refugiados". Toda essa rebeldia começou com a OFL do conselho de segurança da ONU que eu comecei a fazer semana passada e escrever essa semana. Nós, no século XXI, temos pessoas afugentadas - e por que não dizer expulsas - dos seus países de origem e proibidas de entrar em outros. Essa é a minha descrição de refugiados e, sejamos francos, não é isso que o nome propriamente dito, em seu sentido literal, sugere.

Aos olhos do "mundo" não é o que eles são. Me diz você quantos são os olhos xenófobos enquanto Estado? Eu digo.... Todos são. Aos olhos do mundo eles estão ou na condição de fugitivos ou na condição de expulsos porque deram causa a isso. Será que realmente deram? The thing is, que poder é esse que a sociedade tem de decidir coligar a condição de precariedade a espécie humana? É isso mesmo que tem acontecido corriqueiramente. Cada caso é muito peculiar, no entanto nunca me pareceu plausível imputar uma condição de extraterritorialidade forçada por motivo de guerra ou por motivo religioso, nem por motivo cultural, nem por qualquer que seja o motivo. Ainda mais porque muitas vezes se fala em coagir e punir uma geração diferente da geração conflitante. E mesmo que um grupo se utilize disso pra punir uma nação conflitante, inevitavelmente vai estar punindo uma geração imediatamente posterior. Cidadania e moradia deixaram de ser direitos quando? Não me contaram.

Segundo Bauman, em Amor Líquido, um livro que terminei esses tempos, a ACNUR levantava (na época em que foi escrito) entre 13 e 18 milhões de pessoas que foram simples e puramente "vítimas de deslocamento forçado" (no linguajar eufêmico da coisa). São pessoas que cruzam as SUAS PRÓPRIAS fronteiras pra ter alguma chance de sobreviver ou, que sobrevivem alheios das condições de cidadania dentro dos seus próprios países. Não precisa ir pro oriente médio pra ver isso acontecer claramente. Basta olhar pra América do Sul. Basta olhar pra Colômbia, por exemplo. Parece poético, romântico ou "chame como quiser" quando vemos isso como tema de filmes, não é? Não, não parece. Tem só me parecido muito real.

É o que eu chamo de ser engolido pelo sistema.

quinta-feira, 1 de março de 2012

SEPAR-ATION

Ontem fugi de ipanema correndo pra botafogo e assistir a Separação. Teci um muito breve comentário no facebook, como faço costumeiramente e passei outra breve parte da noite pensando nele e querendo abrir o aplicativo pra escrever aqui. Mas confesso... Quando os dias começam às seis, as palavras se embaralham à meia noite e lá pelas tantas eu já estou com uma xícara de chá ao leite ao lado da cama, um gato entre as pernas e o cobertor até o pescoço.

Continuando... Não achei um filme digno de oscar, até então. Não sei se assisti a algum dos outros indicados porque não parei pra olhar a lista ainda, mas com certeza, esse ano, assisti a melhores títulos estrangeiros do que este, apesar de ser um filme com inúmeras qualidades. Quero lembrar aqui, que eu não vou comentar o filme tecnicamente porque não tenho know-how pra isso e sim vou comentar sempre, sempre, sempre como mera expectadora que, no final das contas, é o que eu sou. 

Do meio pro final fiquei tentando elencar na minha cabeça tudo o que o diretor pensou, as cenas que deixou passar/perdeu pra terminar honestamente (não que a cena do final seja descartável, claro. Não é). Depois de desistir da adivinhação, comecei a realizar o que significa realmente SEPARAÇÃO, pra mim. Após a quebra dos vínculos, as situações não devem seguir munidas de um juízo de valor massacrante. Não passam a ser erradas, louváveis, etc. Elas simplesmente passam a ser menos importantes e destituídas de qualquer daqueles juízos se o 'nós', 'eles', etc, não mais existe. Se trata só de levantar uma confiança recíproca, um companheirismo recíproco com quem ficou ou apareceu desta quebra quando você não pode levantar esses dois sentimentos pela pessoa que se foi (e no caso do filme, ninguém "se foi" diretamente).

No divórcio, eu diria, ficam os filhos, principalmente. Nas meras separações (talvez eu esteja sendo audaciosa ao chamar assim), os amigos, os amores ou pessoas posteriores que te dizem uma, duas ou três palavras de respeito puro as quais você simplesmente dá um valor inestimável, tanto valor aos segredos quando tem certeza que continuarão a ser segredos, as conversas que ganharam toques de íntimas. Considerei depois desse momento taxativo que  separação me parece algo como um ponto de partida para seguir em frente e talvez por isso eu esteja, ainda, um pouco distante de ter uma opinião sólida a respeito dessa obra. SPOILER (não leia): A cena do final sugere uma espera eterna enquanto você vê os créditos iranianos subindo e nada entende (rs, até brinquei: "olha aí o diretor de fotografia passando!"). Esperar a decisão de um filho, acredito, seja uma tortura pra quem já passou por isso e desconhece as maravilhas da guarda compartilhada. Mas separação em si, não se trata em uma espera eterna pra mim e por isso, talvez, tenha subestimado o final. Pelo contrário, quando a separação de fato chega (e entenda 'DE FATO' como o momento em que você realmente se dá conta de que não quer mais fazer parte daquilo), a última coisa que você quer e faz é esperar do outro, porque você não se sente mais apto a isso. Nesse caso, um final que deixou 'esperando algo a mais', não era, sendo bastante redundante, o que eu esperava da obra. Se é que vocês me entendem.

E pra finalizar - necessariamente, porque cá estou eu sempre me prolongando e me atrasando como se a vida lá fora não existisse - entendo que o filme realmente se perdeu em algum ponto (e ainda não sei qual), como dizem as 'más-e-sábias-línguas', do meio pro final. E essa crítica sim, metalinguisticamente falando, fez muito sentido se comparada ao título. Ora, separação não é exatamente isso? Não vão esperando por um final resoluto, é o conselho que eu dou. Tem coisas que não te contemplam com um final apoteótico ou um final "soco-no-estômago", mas que vão te deixar pensando até o dia seguinte. Fora isso, o filme retrata quase que maravilhosamente a realidade cultural de toda a situação e das tramas paralelas, desenvolve muito bem a parte moral, religiosa e legal do local. O valor está aí e também nos personagens, que achei muito peculiares.