segunda-feira, 30 de agosto de 2010

À la vonté

Para quem tem olhos para ver e ouvidos para ouvir, não há segredo humano que possa ser escondido. A verdade escapa pelos poros.
- Por que você se mudou?
- Because it was the right time for you to live by yourselves
- Thanks, dad.

- You have never been apart from each other, have you?

- Sinto saudades
- Eu também

- Eu te amo
- Por que você me ama?
- I love you because you are mine, because you need love.
- Eu te amo também


- Próximos demais
- O que você quer dizer com isso, Pedro?
- Ora Julieta, íntimos demais.
Boas e bobas, são as coisas todas que penso quando penso em você. Assim: de repente ao dobrar uma esquina dou de cara com você que me prega um susto de mentirinha como aqueles que as crianças pregam umas nas outras. Finjo que me assusto, você me abraça e vamos tomar um sorvete, suco de abacaxi com hortelã ou comer salada de frutas em qualquer lugar. Assim: estou pensando em você e o telefone toca e corta o meu pensamento e do outro lado do fio você me diz: estou pensando tanto em você. Digo eu também, mas não sei o que falamos em seguida porque ficamos meio encabulados, a gente tem muito pudor de parecer ridículos melosos piegas bregas românticos pueris banais. Mas no que eu penso, penso também que somos meio tudo isso, não tem jeito, é tudo que vamos dizendo, quando falamos no meu pensamento, é frágil como a voz de Olívia Byington cantando Villa-Lobos, mais perto de Mozart que de Wagner, mais Chagal que Van Gogh, mais Jarmush que Win Wenders, mais Cecília Meireles que Nelson Rodrigues.

Tenho trabalhado tanto, por isso mesmo talvez ando pensando assim em você. Brotam espaços azuis quando penso. No meu pensamento, você nunca me critica por eu ser um pouco tolo, meio melodramático, e penso então tule nuvem castelo seda perfume brisa turquesa vime. E deito a cabeça no seu colo ou você deita a cabeça no meu, tanto faz, e ficamos tanto tempo assim que a terra treme e vulcões explodem e pestes se alastram e nós nem percebemos, no umbigo do universo. Você toca minha mão, eu toco na sua.

domingo, 29 de agosto de 2010

La traviata 1853

Baseada em A Dama das Camélias, romance de Alexandre Dumas F. de quatro cenas, 3 atos ou 4 atos. Conta um pouco do drama vivido entre Alfredo e Violetta, uma mulher mundana que envolve o roteiro com a pura intensidade que lhe é característica. Amor e morte são duas palavras que sintetizam a ópera de Verdi. Este não poderia tê-la tornado um drama mais envolvente em cada compasso que compôs.

Theatro da Paz - Dias 24, 26, 28 e 30/09

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

About third time

You should know that you're just a temporary fix, this is not rooted with you, it don't mean that much to me. You're just a filler in the space that happened to be free. How dare you think, you'd get away with trying to play me.

Eleições + risos

Com a liminar do STF que libera sátiras utilizando a imagem de candidatos em período eleitoral, o Brasil deu mais um passinho contra a censura. Assunto este que, diga-se de passagem, o país é campeão em adotar. E é adotar sim.. e não discutir. Entendo que humor com responsabilidade não fere princípios e que um ponto a mais no quesito Liberdade de Expressão não vai machucar ninguém. Ser político sem ser alvo público, pra conseguir é, no mínimo, necessário atar algumas mãos e amordaçar algumas bocas. Chega de 1969, não? Pode parecer exagero, mas não é. Com essa liminar o STF desatou mais uma das muitas mordaças que ainda se espalham pela legislação brasileira. Humor daqui pra lá, que mal tem? Mais uma imunidade política? Acho que a população não iria resistir. Humor no Executivo nunca faltou, venhamos e convenhamos.

(Depois dessa já estou esperando a liberação dos arquivos da ditadura. Hahahaha)

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Deve ter alguma coisa que te impede de virar do avesso. Alguma coisa em que você não é bom, alguma coisa que te faz ter medo de errar. Eu acho que deve. Que você não é bom de cama? Isso eu já sei. Sei que odeia lavar louça e que no meio da noite, morre de fome. Sei que você tem um milhão de problemas e que todos eles são culpa sua. Sei que você sorri como se visse balões no ar quando recebe uma cantada. Me misturei. Ele sempre acha que todo mundo olha quando passa e que quem tem obrigação de ser educado, sempre tá querendo um beijo. Porque ele sabe que apesar desse jeitão, joga conversa fora como ninguém. Tem até o que tirar da conversa fora. É só tirar o que for interessante do que ele diz. Tão fácil. Pegar o resto, sabe, e jogar fora junto com a conversa. Desmisturei. Você nunca sabe do que eu to falando, quer conversar dentro, me pega e giz. A gente sai escrevendo.

sábado, 21 de agosto de 2010

Vocês não tem vergonha, não? Só fico sentado comendo pastel e tomando cerveja. Eu não tenho vergonha de comer tudo o que não presta. Menina, imagina como eu não sou por dentro? Mesmo assim vocês não tem vergonha de alimentar meu ego. Não é só porque eu sou poeta e diplomata, eu sei. Sou bonzinho. Além de tudo, sei que eu sou feio pra porra. Mas fico prosa quando falam do meu sorriso. Não sou um barrigudinho superficial. E o problema é esse. É que além de tudo, eu sou indeciso. E tem mais, eu sou Leão. Quando recebo uma carta lá do outro lado do país fico todo todo. Mas um ano é muito, São Jorge. Se eu fosse belém, eu dizia: Égua, acho que vou me apaixonando por aqui mesmo. Mas aí eu digo que aqui eu não quero ficar. E agora? Aí continuo escrevendo, beijando, lendo, comprando livros e empilhando papéis. Ah, sim. Você manda filmes, eu vejo. Você fala músicas, eu procuro. Mas eu sou só meu, viu? Entendi aquela coisa de que não dá pra ser dois em um só. "Das Unheimlich". Sabe, foi em 1919, mas Freud tinha razão.

V

domingo, 15 de agosto de 2010

acende a luz. Eu levanto e apago. Eis que as cortinas se abrem e a platéia congelou naquela diagonal infindável, eram piqués en dehors, en dedans, en dehors.. Você quis entender, encostada na parede do proscênio, sobre a tontura. Não fiquei. Não importa a quantidade de informações que aconteçam. Não importa a cor do cenário, aplausos. Não importam os canhões de luz desviando o caminho. Não importam os gritos. Acaba num balance em attitude. Estático. Quis falar grego, mesmo. Abro a porta e aí sim, fim. Deito, cheiro, vejo, toco e num risinho equilibrado, sutil, calado, durmo. E aí que você entra, balança as cortinas, bate os armários. Durmo. Se joga na cama, segura o lençol com toda a propriedade que tem, que eu te dei. E durmo. E como se já não bastasse me gira cento e oitenta graus pra direita, trezentos e vinte pra esquerda. Não, nada sobre tontura.Te ensino um dia como é: pra girar, é só escolher um ponto e marcar a cabeça.

E aí que você segura a porta em despedida com toda a força que tem.. e acende a luz. Eu levanto e apago.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Ei, tem carta pra senhora.
A segunda foi a melhor que recebi, é bom me sentir perto mesmo sabendo que ainda vai demorar. Eu reparei em tudo, nos selos e reparei que no envelope você finge que a sua letra é mais bonita, ou então faz de fôrma, pro moço do correio não se confundir. Sempre me animo quando leio Av. Praia de Botafogo 360. Sempre viro as folhas das suas apostilas ao contrário e leio LATIN AMERICAN JOURNAL OF FUNDAMENTAL PSYCHOPATHOLOGY ON LINE. E aí eu fico orgulhosa por você estar aí tanto quanto você ficou pela audição de Nordhausen.

Rio de Janeiro, 23 de julho de 2010.

Tem um quê canceriano que me faz sorrir muito lendo as suas cartas, aquele de contar o dia-a-dia e dar atenção pra certas coisas simples, como a capa de "O livro do Riso e do Esquecimento". Eu quis scanear o seu desenho e guardar pra sempre. Quis que o papel nunca ficasse amarelo na vida! Sabe...Eu fico tão animada que sempre rasgo o envelope e, só pra constar, pouco me importam as linhas tortas e a letra apressada. Eu to ansiosa pela terceira, quero saber sobre o Milan Kundera. Quero saber o motivo da capa. Quero saber o que diz na quarta, quinta, sexta linha do livro. Quero muito.

(3 horas depois, 7 horas depois, tanto faz)

Sabe verão? Aliás.. foi mais inverno do que verão. É que eu ia dizer de amor de verão. Mas você foi meu de inverno, de dois dias, não importa. Foi um BUM! Porque você é desse jeito. Dá um passo de cada vez e isso me deixa na espectativa do próximo. Você não sai me engolindo com mil palavras. Você me faz perceber que é mais importante saber que você andou no calçadão tal hora do que as vontades que você sente. E isso me deixa confortável, sossegada e segura, me deixa canceriana ainda mais. Nossa, que overdose de astros. Que distância. Mas que sentimento bom. Incrível como você fez tudo ficar bom. Todos os momentos, sem exceção. E até a distância.. Se eu tivesse que pensar em um ruim, não conseguiria. No La Fiesta, a gente ganhando drink de cupuaçu, tentando falar em francês e eras.. que francês de merda o meu e o seu (mas já vou voltar a Aliança, me juro, me prometo)... mas pouco importa. Conosco as coisas acontecem não porque devem ou por ser importante que aconteçam. As coisas são importantes porque acontecem.

 Hoje fiz uma aula de balé muito boa, Brasília rendeu bem mais do que eu esperava, nesse sentido de preparação física, musicalidade, etc. Você vem em outubro? Vem na semana que eu vou dançar? Porque pelo vídeo nem vai ter graça. E sabia que to querendo ir ao Rio em fevereiro do ano que vem? Tenho umas gambiarras por aí. Em outubro decido, só preciso enviar uns emails e ter certeza. Então.. me escreve, pode escrever. Porque não tem nada melhor do que chegar cansada e ler como anda o Rio, como anda o seu apartamento e as coisas na UFRJ. Adoro contar os números que você coloca no canto superior direito das páginas. E adorei o selo da costureira.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

É que pra mim tanto faz, se você prende o cabelo ou se não prende, se dorme cedo ou se não dorme. Aqueceu o risoto? Quer mostarda? Se tira a roupa ou se não tira. Respirei fundo uma vez. Nunca fiquei arrepiada. Nunca frio na barriga. Me posicionei assim... pra assistir a tudo, enquanto nada se move. E aí eu olho pros outros lados, me divirto e adoro. E quando paro.. penso que a inércia me dá sono.